Muitas vezes sentia-se incompreendida e estranha por ainda não
conhecer profundamente a si mesma, sendo assim não conseguia saber lidar com
algumas situações e com as pessoas. Tinha uma mania de inferioridade que lhe
impossibilitava de enxergar o seu próprio eu, e assim perdia-se,
desencontrava-se, inquietava-se. Ficava remoendo coisas que independiam dela,
as quais não poderiam ser como ela realmente quereria. No que dependia dela,
fazia o que pensava ser o melhor - nem sempre o era. Sentia muita saudade
daquilo que ainda não havia vivido e experimentado – e isso trazia um incômodo
inexplicável. Enquanto o não vivido não se materializava e tornava-se de certo
modo palpável, ia utilizando sua imaginação para dispor de alguns instantes,
onde fosse possível sentir-se bem consigo mesma – a leitura era uma ferramenta
poderosa para tal, outra, o silêncio. Perguntava-se “o que está acontecendo
comigo? Em qual esquina ficou presa minha subjetividade? Em qual parte do
caminho me desconectei de mim mesma (se é que realmente em algum momento já havia se
compreendido)?”. Era especialista em engolir o choro, engolir sapos e esconder
os sentimentos – ou seria não saber como demonstrá-los?. Os espaços não preenchidos e as faltas que
havia em sua vida iam podando seus sentimentos, tornando-a mais quieta, mais
fechada e menos receptível. Pedaços de
memórias foram se perdendo ao longo do tempo – se perderam ou nem sequer foram
vividos? Ela não sabia responder. Esperar
nunca foi uma das suas melhores qualidades, mas esperar é preciso, pois não
somos nós que escolhemos o melhor tempo das coisas acontecerem, se
endireitarem. Estamos em eterno processo de feitura, nunca estaremos completamente
prontos, somos seres inacabados, assim, pois, passíveis de metamorfoses. Sua
vida parecia sem sentido e infeliz, porém existia uma força dentro dela, uma
força e uma vontade inexplicável que a faziam seguir, manter um sorriso nos
lábios - tentando transplanta-lo também para a alma. E continuar seus passos
cansados, apesar dos entraves que encontrava pelo caminho. Não parava, sabia e sentia que as coisas
melhorariam, pois existia uma palavrinha que era a mola propulsora para seu
caminhar. A palavra
ACREDITAR. Acreditava na sua capacidade. Acreditava em um Deus que jamais deixaria de
amá-la. Acreditava no poder da sua fé. Acreditava também no amor, em anjos e em
fadas.